O risco de ser fiador
Tenho acompanhado bem de perto este grande problema que é o endividamento de varias famílias, que faz muitas das vezes um efeito domino, afectando outras. Vamos perceber qual o risco de ser fiador.
Há uns 8 anos atrás, portugal assistia ao maior desenvolvimento e criação de habitações jamais existente, víamos empreendimentos a serem feitos a uma velocidade louca. A procura de casa nova através do acesso ao credito fácil também facilitava. Os bancos facilmente emprestavam dinheiro, quer para a casa, para o carro e ate para passar ferias.
Os Spreads ao contrario de hoje eram baixos, a publicidade era muita e víamos mesmo muitas pessoas a comprar casa.
No entanto como ainda hoje, os bancos pedem garantias. Um banco é uma empresa, com o único objectivo de gerar lucro, por isso é óbvio que quer sempre se salvaguardar.
Nestas garantias bancarias, era muita vez pedido a figura de fiador. O Fiador muito resumidamente é a pessoa que dá as suas garantias em como se responsabiliza pelo credito caso o cliente deixe de pagar ao banco. No entanto eu noto que devido a publicidade que era feita na altura para se emprestar dinheiro, o fiador nunca ficava com a ideia dos seus direitos e deveres.
Os deveres resume-se logo a uma frase muito simples: Em caso de incumprimento, o fiador paga. É a realidade e o grande risco de ser fiador, é que caso o mesmo não tenha dinheiro para pagar, o banco executa os seus bens, as suas casas, carros e penhora o ordenado. O pior disto tudo é que mesmo que o fiador pague a divida ao banco, o imóvel continua a ser do cliente.
Vamos imaginar o seguinte cenário pratico para ser mais fácil:
O Risco de ser fiador – Exemplo Pratico
Temos o Paulo e a Ana, um casal que deseja comprar casa pelo valor de 100 000€ (cem mil euros). No entanto precisa tambem de a mobilar como tal pediu 120 000€ em credito bancário. Para o banco emprestar o dinheiro, o banco procede a hipoteca da casa e fica com os pais da Ana como fiadores.
Tudo corre bem, ate que o Paulo e Ana se chateiam. Decidem se separar e colocam a casa a venda. Dado a queda no mercado imobiliário que estamos assistir ninguém compra a casa, muito menos pelo valor pedido. Devido a todos estes problemas o Paulo sai da casa e deixa de pagar. A Ana não tem rendimentos para pagar uma prestação tão alta por mês e entre em incumprimento.
Passado um mês já os fiadores estão a receber uma carta do banco a informar que existe um valor em divida. Os mesmos com a pouca reforma que recebem não conseguem pagar a divida. O banco procede a venda da casa em leilão, sendo que ate la (demora perto de 1 ano) os juros vão acumulando. Uma divida que estava em aproximadamente 90000€, devido aos juros de mora e custas já vai em 100000€. O imóvel é vendido ao melhor preço em leilão, neste caso por 60000€.
O problema agora que se põem é, quem vai pagar os restantes 40000€ em divida?
Aqui entra o fiador. Neste caso os pais da Ana vão ter que pagar os 40000€ e como os mesmos não tem actualmente rendimentos para proceder a esse pagamento, o banco trata de penhorar os bens. Com isto o banco coloca a venda a casa dos fiadores para liquidar a divida.
Assim em termos práticos, percebemos que devido aos pais da Ana terem ficado como fiador perderam todo o seu património.
O único direito que o fiador tem, é o chamado direito de regresso. basicamente fica com o direito sobre o devedor (neste caso exemplo, a filha e o ex-marido) de pedir todo o dinheiro gasto ou pago por eles (incluindo os bens), mas vamos ser sinceros, se o devedor não consegui pagar ao banco, como vai nos pagar a nos?!
Acreditem que acontecem mesmo muitos casos como o exemplo que dei. Muitas pessoas tem que pedir a insolvência por serem fiadores.
Para terminar informo ainda de outro risco de ser fiador, é que mesmo que deseje deixar de o ser não pode. Só pode deixar de ser fiador no fim do contrato, quando a divida estiver paga, ou se o devedor arranjar fiadores novos o que acho ainda mais complicado!
Deixo ainda esta noticia do jornal dinheiro vivo tambem sobre o risco de ser fiador, para terem mais uma ideia.
A minha recomendação acima de tudo passa por não serem fiadores. Minguem sabe o dia de amanha para se meter nisso, sendo que não existem sequer direitos sobre o imóvel.
Se tiver duvidas comente, prometo responder a todos.
A situação é deveras alarmante dado que muitos destes fiadores debatem-se com dificuldades financeiras para conseguirem cumprir com os seus próprios créditos. Desta forma o número de pessoas sobre-endividadas, por serem fiadoras de outras, tem vindo a aumentar.
Ola Rui Quintas, obrigado pelo seu comentário.
Concordo e conheço bem de perto esta situação.
Vamos a ver se as pessoas começam a ter mais cuidado antes de assinar um papel. Esta muita coisa em jogo.